Entenda os riscos da ‘trend’ do Studio Ghibli para usuários do ChatGPT

Entenda os riscos da 'trend' do Studio Ghibli para usuários do ChatGPT Entenda os riscos da 'trend' do Studio Ghibli para usuários do ChatGPT

Usuários de redes sociais se renderam a desenho gerado em plataformas de IA, a partir de fotos pessoais

Se você é um frequente usuário do Instagram ou de outras redes sociais, certamente deve ter visto recentemente a febre do “entrei na trend”, acompanhado de uma foto gerada em IA, a partir das próprias fotos.

Esse movimento é feito utilizando plataformas de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, utilizando o estilo dos filmes do Studio Ghibli, um estúdio de animação japonês sediado em Koganei, Tóquio. Isso tem gerado um enorme engajamento – mas é importante entender o que está por trás disso.

Para Vanderlei Garcia Jr, sócio do VGJr Advogados e especialista em Propriedade Intelectual e IA, esse comportamento levanta preocupações importantes, especialmente no que diz respeito à privacidade. “Certamente, ao enviar fotos pessoais para essas ferramentas, o usuário pode estar cedendo, muitas vezes sem perceber, direitos sobre o uso da imagem e compartilhando de dados pessoais, seus ou de terceiros sem qualquer autorização”, diz o advogado.

Embora algumas plataformas afirmem que não armazenam ou utilizam essas imagens posteriormente, Garcia Jr afirma que os termos de uso frequentemente dão margem para o uso amplo, inclusive para treinamento de algoritmos, como por exemplo, na inclusão e no uso da imagem em bases de reconhecimento facial, o que, além de antiético, pode ser legalmente questionável em algumas jurisdições.

Na mesma linha, o sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Digital e Proteção de Dados, Alexander Coelho, avalia que o risco é tão “sutil quanto poderoso”. “Mesmo que as empresas afirmem que não armazenam imagens, a assimetria de informação é gritante. Quantos usuários, de fato, leem os termos? Quantos entendem que estão entregando algo único e intransferível, seus traços, expressões, emoções, para uma máquina?”, questiona o especialista.

Além disso, ele lembra que há risco de vazamento, uso indevido ou treinamento adicional não autorizado, sobretudo se a plataforma estiver sediada em países com legislações mais permissivas. “Afinal, como diz um velho provérbio digital: na internet, se você não está pagando, o produto é você”, reforça Coelho.

Nessa discussão de uso de imagem e de dados sensíveis, há, também, a discussão ética: mesmo que legal, imitar o estilo de um artista como Miyazaki – que rejeita IA visceralmente – traz um debate mais filosófico. “Primeiro ponto é: estamos celebrando sua arte ou seria o profano com um clique? E o segundo  o futuro: a OpenAI bloqueou o Ghibli, mas e os próximos alvos? Plataformas como Grok (xAI) ou Stable Diffusion ainda permitem estilos similares. Isso sugere uma guerra silenciosa entre inovação e tradição, com a IA como arma e os artistas como resistência”, explica o especialista.

“É importante destacar que estamos vivendo um momento de transição, em que a tecnologia está avançando muito mais rápido do que a legislação consegue acompanhar. Por isso, é essencial que os usuários fiquem atentos, leiam os termos de uso dessas plataformas e compreendam que, mesmo sem intenção, podem estar se expondo a riscos jurídicos ou contribuindo para práticas que levantam sérias questões éticas e legais. Ao mesmo tempo, as plataformas precisam assumir uma postura mais transparente e responsável sobre como utilizam os dados e os conteúdos gerados pelos usuários”, conclui Garcia Jr.